domingo, 30 de agosto de 2009

NEIL

Carpe diem… Aproveita o dia, é o significado desta expressão. Quando o professor disse isto, tu percebeste que era o que faltava na tua vida e, a partir desse momento, tornou-se o teu lema. Qualquer fosse a situação em que te encontrasses, guiavas-te por ela e isso transformou-te completamente… Abandonaste o carácter rígido com que te vi no primeiro dia de escola e passaste a ser feliz. Todos perceberam a diferença no teu comportamento pelo brilho nos teus olhos. Tinhas começado a viver e a ser quem tu eras na realidade.
No dia em que fui transferido e descobri que eras o meu colega de quarto, começaste logo a ser simpático e tornaste-te no meu melhor amigo. Não foste o único a tentar meter conversa e fazeres com que me integrasse, mas foste o único a insistir quando todos os outros desistiram… Foste o único que reparou que eu existia, mesmo quando eu já tinha desistido de tentar fazê-lo… Obrigado!
Foi graças a ti que me juntei ao Clube e, embora o resto dos iniciados o tenha abandonado, é por ti que ainda venho cá, como uma homenagem. E é isso que estou aqui a fazer hoje, embora eu ainda seja um iniciado e tu já sejas um membro a sério, visto que agora tens o que precisavas para o ser: estás morto.
Há já um ano, tinhas actuado na estreia do “Sonho de Uma Noite de Verão”. Tinhas feito a melhor representação da tua vida (e eu tinha-te visto a ensaiar todas as noites e já pensava que eras mesmo muito bom). Nunca te tinha visto tão feliz, pelo menos até aparecer o teu pai… Obrigou-te a entrar no carro e desapareceram os dois.
A partir daí, não sei o que se passou entre ti e ele, mas no dia seguinte quando o resto do Clube me foi acordar… Não sei explicar o que senti. Apenas sabia que algo estava errado. Foi aí que eles me disseram que tinhas morrido.
“Ele morreu ontem, suicidou-se…”
Não conseguia acreditar… Tu, que amavas a vida e tinhas descoberto o que querias, suicida? Não podia ser. Tu não te tinhas suicidado.
Tinha sido o teu pai, a culpa foi dele… Ele teria de ter feito ou dito algo que te levasse a fazer algo tão desesperado como o suicídio. Ele tinha morto o teu espírito, a tua alma de poeta… Ele foi o culpado da tua morte… Tu apenas te desfizeste do corpo sem vida…
Por isso vim dizer-te o que nunca pude.

Nunca me vou
Esquecer do que fizeste por mim.
Isto, que hoje sou, é graças a ti.
Lembra-te de quem fostes e sê sempre assim…

Adeus…
Voltaremos a encontrar-nos quando também eu for um membro do Clube dos Poetas Mortos.


(Apeteceu-me... Que se há-de fazer? -.-')