sexta-feira, 14 de outubro de 2011

THRILL

Está frio. Não, na verdade está um frio de gelar.
Não sinto nada no meu corpo para além de dores horríveis. Estou suado, encharcado, cheio de cortes na cara e o meu cérebro parece um disco riscado: "Corre. Não pares... Corre. Não pares".
Isto é mau... Muito mau.
Não há barulho nenhum para além das minhas botas a pisarem o chão molhado coberto de folhas, ramos e mais o que quer que seja que podemos encontrar numa floresta em pleno Inverno e a minha respiração ofegante. Está tudo muito silencioso e isso não me agrada nem um bocado.
Corro mais e mais rápido, mas todos os meus múculos me pedem para parar!
Pára!
Cheguei ao fim da linha. Uma clareira sem saída, a não ser que haja alguma aranha radioactiva para estes lados... O que não me parece provável.
Voltar atrás. Não! Outra saída, tem de haver outra saída.
Cada vez a floresta parece mais silenciosa. A adrenalina corre-me nas veias e parece que tudo se move demasiado devagar... Seria fantástico se fosse noutra situação.
Despacha-te! Ele vem atrás de ti.

~:~

O velho anda para trá e para a frente. Caçadeira na mão e indumentária a rigor para uma caçada. Outro homem mais novo está sentado a frente dele. Mãos e pés atados, boca mordaçada, olhar e postura inquetos, suor a acumular-se na testa: medo. O velho continua a falar calmamente e com uma paixão doentia sobre o assunto.
"Os humanos são muito mais interessantes... O grau de inteligência em comparação com outros animais é bastante superior. No entanto, quando caço, a maioria dos animais sobrevive à caçada muito mais tempo que os humanos. Humanos são muito mais divertidos de ver fugir e a falhar repetidamente: cada escolha é pior que a anterior. Consigo antecipar cada movimento vosso, como se fosse um mapa à minha frente."
Tirou a faca escondida na cintura e levou-a ao pescoço do homem e encostou-a com força suficiente para deitar algumas gotas de sangue.
"Corre." Continuou o caçador. "Não pares... Ou a caçada não valeria a pena."
Com um sorriso malévolo soltou-o e deixou-o afastar-se até o perder de vista.
A excitação era facilmente lida no perfil do caçador demente. "A época de caça, começou agora..."

~:~

Uma caverna.
Atrás de uns arbustos estava algo semelhante a uma caverna grande o suficiente para caber lá dentro ajoelhado ou de cócoras.
Entrei e andei o mais que pude, mas por alguma razão não fiaquei surpreendido quando me apercebi que não ia mais fundo do que me encontrava. Dez metros para dentro da rocha sólida.
Sentei-me e descansei pela primeira vez em dois dias. Sentia o coração a latejar-me nos ouvidos.
Ramos a partirem-se lá fora.
Chegou.
De certeza, o homem conhecia aquele esconderijo. De certeza, muitos tinham morrido ali antes dele e, infelizmente, outros iriam morrer ali depois dele.
Mais uma vez, os meus instintos tomam conta do meu corpo incitados pelo medo puro de toda a cena que se desenrola naquele momento... Tão irreal como um filme.
As folhas que ele tinha deixado em monte à frente da caverna são afastadas delicadamente, com calma... Ele também sabe que o fim está próximo.
A voz rouco do velho chama-o carinhosamente mas as suas palavras prometem o oposto.
O frenesim na minha mente impele-me para o fundo da caverna, como se miraculosamente ela desse origem a uma saída... De uma lado para o outro de costas contra a rocha irregular, arranhando-me as costas, mas cuja dor não parece existir no momento. O bafo de ar quente que se condensa tão rapidamente quanto sai dos meus lábios, cada vez a intervalos menores. O meu coração bate de maneira irregular a cada passo a que se aproxima.
Quando nos encontramos frente a frente, mal iluminados por uma frecha de luz detrás do perfil sinuoso do caçador, fazendo-o parecer mais perigoso que qualquer outro predador que pudesse aparecer ali. Essa frecha de luz reflectida nos meus olhos, uma presa tão impotente como o mais minúsculo dos insectos.
Ele empunha a caçadeira em direcção à minha testa: ia ser abatido como um animal para o matadouro.
Fui apanhado. É o fim.
Fechei os olhos, admitindo a derrota e rezando para que não doesse muito.
O clique do gatilho foi a última coisa que ouvi.

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